A FORMA E O CONTEÚDO

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Vive-se o espectáculo da imagem, em detrimento do conteúdo. As fardas, os galões, as barbas, as calças esburacadas, os calções provocadores, a opulência das vestes eclesiásticas, dominam as mentes dos protagonistas desta civilização das futilidades. A imagem. A imitação. A carneirada. O rebanho à espera do Pastor.

Os pavões do dia-a-dia passeiam as suas vaidades, enquanto, à nossa volta, se erguem muros, cresce a miséria, apagam-se os valores, prega-se o ódio ao outro, vendem-se armas, crescem os números do desassossego, amplia-se o deserto, matam-se os mares e os rios, desenraízam-se os jovens, liquida-se o futuro.

NÃO PODEMOS DESISTIR DE SER PESSOAS

As estatísticas e os números apagam as pessoas. Chegámos, sem dúvida, a uma encruzilhada. Já aconteceu na história da humanidade por mais de uma vez. Não há que ter medo. De uma coisa estou certo: não podemos desistir de ser pessoas.

Sempre, em momentos como este, alguém pegou no pendão e encabeçou a luta por um mundo mais justo para todos. E sempre as pessoas saíram destas crises de crescimento com mais dignidade. Erguem-se vozes, por esse mundo fora, contra os bolsonaros, os trumps, os salvinis, os orbans, os maduros, os boris, os pardais e tantos outros populistas e projectos de ditadores que acabarão por compreender que o futuro passa por uma democracia robusta onde as pessoas ocupem a primeira linha das preocupações.

Mas, cuidado, temos de acordar e lutar. Sobretudo, convençamo-nos que a luta é de cada um e de todos. Ressuscitemos o nós e enterremos os egoísmos de cada um.

  • OS PROBLEMAS NÃO SE RESOLVEM,
  • ERGUENDO MUROS

O Papa Francisco, com a sua sabedoria habitual, alerta que os problemas não se resolvem erguendo muros, mas, pelo “diálogo, o crescimento, o acolhimento, a educação, a integração”. Também defende uma economia social e ecológica, ao serviço das pessoas e do meio ambiente. Refere ainda dois pontos fundamentais: recuperar a ternura, o papel da mulher, esse ser especial, sem o qual, “o mundo não funciona”.

A propósito, lembra uma palavra, a palavra “ternura”, que está a desaparecer dos dicionários porque todos têm medo dela. Ora a palavra “ternura” é património da mulher. Mas, em vez de a exaltarem, escravizam-na, odeiam-na, matam-na. E acrescenta: “uma casa sem a mulher não funciona”.

Outra grave preocupação tem a ver com o desenraizamento dos jovens. Não se deve confundir “ir às raízes” com a ideologia conservadora. É fundamental “assumir as raízes normais, as raízes da tua casa, as raízes da tua pátria, da tua cidade, da tua história, do teu povo…de…mil coisas”. Por isso, ele aconselha “sempre os jovens a falar com os velhos e os velhos a falar com os jovens, porque … uma árvore não pode crescer, se lhe cortarmos as raízes, como também não cresce, se ficarem só as raízes.”

ACORDA, POVO !!

Ao alcance dos dedos treinados para teclar futilidades, há conteúdos profundos que todos temos de aprofundar, debater, questionar, pôr na primeira linha das nossas preocupações, sob pena de nos submergirmos como escravos de um ditador qualquer, como esses que já tomaram conta de nós, sem darmos conta. Por exemplo, atentem no que se passa com os chineses, que, com palavrinhas mansas e projectos aparentemente generosos, já mandam em todos os continentes.

Uma nota final para o Pardal. Inteligentes analistas afirmam que perdeu. Mentira. Está à beira de conseguir o que sempre desejou: entrar no Parlamento Europeu para ajudar a impulsionar o caos. Acorda, Povo!

LEONEL MARCELINO