A desgraça foi grande, no dia 15 de Outubro de 2017, no concelho de Tondela, com toda uma vasta região em chamas que devorou o centro do país. Morreu muita gente. Foi queimado um património ambiental incalculável. Famílias inteiras ficaram sem casa e sem os seus haveres. Logo, era essencial que, da tragédia, ficasse registo e memória.
Foi então lançado um concurso de ideias pelo Município de Tondela, com o fim de ser escolhido um projecto que melhor retractasse o sentimento dos tondelenses, perante tamanha desgraça, pelo que, na tarde da última sexta-feira (5 de Julho), no Museu Terras de Besteiros, foi aberta uma exposição dos trabalhos apresentados pelos diversos autores, cujos resultados foram divulgados, perante os órgãos da comunicação social e dos convidados.
O projecto “Raízes” foi o vencedor do concurso de ideias para a criação de um memorial dos incêndios de 15 de Outubro de 2017, lançado pela Câmara Municipal de Tondela.
ESPAÇO DE CONTEMPLAÇÃO E MARCO SIMBÓLICO
“Tivemos cinco projectos a concurso, tendo sido escolhido o projecto ‘Raízes’, que tem como objectivo criar um espaço comunal de contemplação através do uso de símbolos sobre a renovação da vida, os ciclos da natureza e a superação da adversidade”, contou o vereador da Cultura.
Miguel Torres lembrou que este concurso foi lançado pela autarquia, em Outubro de 2018, com o intuito de “instalar um marco simbólico que ilustre como a população reagiu aos fogos” de 15 de Outubro de 2017, que provocaram a morte a 50 pessoas.
“Vai ser um memorial onde será perpetuado o nome das pessoas que perderam a vida nesta tragédia. No entanto, está também, de alguma forma, assente numa perspectiva de futuro, em vez de acentuar, exclusivamente, um momento particular do passado”, justificou.
O projecto “Raízes” é da autoria de dois alunos, Juana María Bravo e de Paulo Viel, da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, parceira do concurso, que recebem um prémio de dois mil euros para um monumento que “não deverá exceder os 50 mil euros” no total.
Na segunda posição, com um prémio de mil euros, ficou o projecto “Vácuo”, que, segundo o vereador, “visava emergir naquele lugar um parque com 45 cerejeiras bravas e um espaço côncavo e irregular revestido de asfalto”.
Os projectos “ZigueZague”, “Renovo” e “Era uma árvore – silêncios da espera” receberam menções honrosas.
Segundo a autarquia, puderam concorrer ao concurso para o memorial, projectos em equipa, sendo estas multidisciplinares, e “foram privilegiadas as propostas mais originais e com clareza visual”.
UM OLHAR SOBRE UM MOMENTO DA NOSSA HISTÓRIA
Porque lhe foi pedido, o presidente do Município referiu que, quando a autarquia lançou este projecto, “havia uma ideia muito presente, a de que este memorial representasse um olhar sobre um momento da nossa história, mas ao mesmo tempo, que tivesse uma dimensão introspectiva de responsabilidade social e também pessoal de cada um. E foi isso que, de alguma forma, sentimos neste projecto, um projecto que em primeiro lugar procura olhar para a natureza, pelos elementos que a compõem. A resistência das árvores e o seu efeito naquilo que é também a resiliência do próprio território e depois também um momento de contemplação que lhe está associado”.
O projecto tem isso e tem também uma linha de luz que simboliza “uma cicatriz que poderemos olhá-la sempre de forma diferente, mas que está presente, que não deixa de ser também uma forma de ter a esperança de que algo renasce e regenera de forma permanente e contínua e é isso um pouco do que este projecto se valorizou e a perspectiva que o júri teve”, segundo o autarca, lembrando que esteve também envolvido neste júri a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, um conjunto de personalidades ligadas à arquitectura e ao designe.
José António de Jesus, quis referir que irão ser procurados alguns deles, de forma a que, também, possam ser materializados noutras áreas da cidade, “pela amplitude que tem, pela sua beleza estética e pelo conjunto que, enquanto elementos escultóricos, podem ser relevantes para o nosso território. Julgo eu que foi uma missão bem-sucedida, porque daqui resultaram bons projectos e acima de tudo com qualidade criativa e artística, que vem também enriquecer o nosso território”.
TRAGÉDIA NÃO DEIXOU NENHUM PORTUGUÊS INDIFERENTE
Sobre a visão dos artistas que são de fora, na ideia com que ficaram do território depois do incêndio, José António de Jesus deixou claro que julgava que “a circunstância de residir, ou não no território, hoje já é muito relativa. A tragédia de Outubro de 2017 não deixou nenhum português indiferente, as pessoas tiveram uma noção muito real dessa fatalidade, claro que quem vive neste espaço tem uma percepção diferente, as tais cicatrizes que estão presentes nesta obra, mas de uma forma geral é verdade que os artistas, os concorrentes, eram equipas mistas que envolviam a parte do designe, da arquitectura, em alguns casos da engenharia, tiveram bem presente essa visão e esse sentido que está tão retratado nas diferentes obras que aqui estão”.
Sobre a previsão da conclusão da obra de instalação do monumento, o autarca disse ser propósito da autarquia tê-lo pronto numa fase muito próxima da conclusão, ainda durante este ano de 2019. “É nosso propósito, também, envolver um conjunto de mecenas, das entidades que se queiram associar na tal perspectiva da solidariedade regional, não tanto pelo valor eventual que a obra em si, de construção civil, pudesse representar, mas pelo acto, pelo simbolismo e pela partilha”, explicou.
“Vamos durante este mês de Julho e Agosto, fazer esse repto, essa abordagem e, de seguida, naturalmente há pormenores, mas o nosso propósito é que possamos pôr esta obra em execução, seria interessante que a tivéssemos concluída a 18 de Dezembro, vamos ver se é possível”, concluiu.