ABSTENÇÃO, CANDIDATOS POLÍTICOS E POLÍTICOS ELEITORES

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A estrela desta estranha constelação, foi, sem surpresa, a abstenção. Culpam-se os políticos ocupantes de cargos públicos como os grandes culpados desta deserção de eleitores. Não concordo.

A culpa resulta da passiva atitude dos cidadãos que, como cidadãos, logo, como políticos que também são, quer queiram quer não, abdicam da sua obrigação de contribuir, com o seu empenho, para o aperfeiçoamento da democracia. Ora, esse contributo começa com a sua obrigação de participar, com o voto, na escolha de quem deve ocupar os cargos públicos.

Com o voto, a arma democrática ao seu dispor, seleccionam-se os candidatos que mais se aproximarem do perfil adequado aos que vão representar o Povo, na Assembleia da República. O cidadão-político, que todos somos, quando se demite da sua obrigação de participar num acto fundamental para a democracia, comete um crime dos mais abjectos, pois desiste de lutar por um país com mais dignidade, mais qualidade de vida, mais progresso.

  • AO DESISTIR DA LUTA, OS ABSTENCIONISTAS PERDEM
  • O RESPEITO POR SI MESMOS

Ao desistir da luta, os abstencionistas perdem o respeito por si mesmos, pelos outros, pela comunidade a que pertencem.

Colocam-se ao nível dos que exercem os cargos públicos mais focados nos seus egos e interesses umbilicais do que nos interesses da comunidade a que pertencem. Na minha opinião, os abstencionistas não passam de seres egoístas, execráveis, cobardes, desistentes e preguiçosos, que trocam a luta por um mundo melhor por um banho de sol e de água salgada.

A política não é deste ou daquele. É de todos, pois todos os cidadãos, enquanto membros de uma comunidade, são políticos. Os políticos são pessoas como aquelas que se cruzaram contigo, há pouco, na rua. Uns cultivam as barbas, outros curtem as calças rotas e os cabelos pintados de mil e uma cores, alguns exibem-se como cobras serpeantes, sem destino, ou amolecem de nariz esborrachado nas montras dos centros comerciais.

ABSTENCIONISTAS, FRUTO DE UMA SOCIEDADE FALHADA

Quantos são capazes de largar essas rotinas desastrosas, inúteis, para, ao menos uma vez de vez em quando, se interessarem pelos interesses da comunidade e irem a votos? Votar? O que é isso? – perguntarão alguns. «Não me lixem! Esses gajos são todos iguais! Eles que se governem!» E é este egoísmo doentio que faz deles lixo, deles e duma sociedade incapaz de se organizar para que se cultive e se exerça a cidadania.

Estes abstencionistas são fruto de uma sociedade falhada, incapaz  de convencer os cidadãos dos seus direitos e deveres.

Não há democracia que resista quando os cidadãos se abstêm de lutar por um mundo mais digno, mais justo, mais progressivo, mais respeitador do outro e da sua maneira de estar na vida.

O mundo está cada vez mais perigoso. A Europa está a ameaçar desfragmentar-se. Forças saudosistas das fronteiras, das guerras, dos falsos nacionalismos, das capelinhas que os alimentam, ameaçam a democracia e lutam para retroceder ao tempo dos mussolinis e dos hittleres, onde só havia lugar para alguns, atirando com todos os que fossem diferentes para campos de concentração, fornos de gás, desertos de gelo, conforme fosse mais adequado ao silêncio das violências.

Quantos milhões de pessoas foram sacrificadas em nome de ideologias desrespeitadoras da dignidade humana? Há regiões onde esse inferno continua bem aceso. A Europa construiu-se para evitar as guerras, respeitar os valores da democracia, espalhar pelo mundo os ideais que valeram os Direitos Humanos, que criaram e exportaram a bandeira da «Liberdade, Igualdade, Fraternidade».

A EUROPA VEM DOS SEUS VALORES

A Europa não é rica em bens materiais, se a compararmos com outros continentes. A riqueza da Europa vem dos seus valores, hoje ameaçados pelas hordas de saudosistas do passado.

Ora, a eleição de deputados para o Parlamento Europeu, tinha, como objectivo principal, defender os valores que os povos livres europeus defendem, o que, quanto mais não seja, acabou com as guerras que, periodicamente, nos dizimavam. Com o projecto europeu construiu-se uma prosperidade nunca vista e uma dignidade humana antes desconhecida.

Basta lembrarmos o que acontecia a quem tinha de emigrar para França, ou outros destinos, a salto, sem documentos, sem garantias, arriscando a vida, morrendo, quantas vezes, numa cadeia, ou num qualquer desfiladeirto, na sua luta por uma vida melhor.

Já se esqueceram? Lembrem esses tempos a estes inúteis cidadãos que trocam a arma do voto pelos passeios preguiçosos nos centros comerciais ou nas praias que deixarão de ser suas, se abdicarem das lutas que têm de agarrar, quanto antes.

LEONEL MARCELINO