Zona serrana do Caramulo merece mais e melhor !
Quem ainda se lembra da florescência do Caramulo, não pode deixar de torcer o nariz pelo quase abandono a que as gentes sofridas da montanha têm estado sujeitas ao longo dos anos.
Antigamente, com a Estância Sanatorial do Caramulo em pleno funcionamento, havia um certo equilíbrio entre o viver das gentes da agora vila e as gentes da antiga vila de Tondela, agora cidade.
No tempo dos Lacerdas e no auge da tuberculose, que trazia para a estância gentes de todo o país e estrangeiro, onde algumas acabaram por ficar depois de curadas, a urbe respirava saúde, progresso e modernidade, onde foram prodigalizadas infraestruturas que até a própria sede do concelho não possuía.
Teve, então, a freguesia do Guardão, a que administrativamente o Caramulo pertence, uma população que rondava as três mil almas e, Tondela, com pouco mais. Além disso, politicamente, os agentes do progresso do Caramulo, pela sua proximidade ao Governo do Estado Novo, chefiado por Salazar, substituíam-se ao Poder Local sediado no centro do vale, pelo que as benesses (as notas de conto) por si conseguidas nem necessitavam de passar por Tondela. Iam directamente para a serra. Aliás, quem escolhia os presidentes de Câmara, eram os Lacerdas.
Há quem advogue que a morte prematura de Abel Lacerda, numa passagem de nível sem guarda, foi muito má para as pretensões do Caramulo, uma vez que se tratava de uma personalidade ímpar e possuidora de rasgada visão para a sua época, capaz de catapultar a terra para patamares de progresso e desenvolvimento nunca vistos, a ombrear com a sede do concelho e, daí, fervilhar a ideia de chamar ao Caramulo a sede do Município.
Os Lacerdas não queriam um novo concelho. Queriam que a sua sede passasse de Tondela para o Caramulo. E, quem sabe, talvez o tivessem conseguido se Abel Lacerda não tivesse desaparecido prematuramente.
Na verdade, o Caramulo tinha tudo e mais alguma coisa, pelo que não foi, por acaso, também, que passasse a ter, ali, acantonada, a GNR, num autêntico serviço de proximidade e que hoje já não tem mais.
E, ao nível particular, nem uma estação de rádio lhe faltava, pela iniciativa, em 1939, do saudoso António Joaquim Seabra que, igualmente, pela doença pulmonar, viera parar ao Caramulo e por aqui também ficara. Era uma rádio ”pirata”, destinada a animar aqueles que, desterrados, longe da família, enchiam os 20 sanatórios desta montanha mágica, a “mais linda serra”, como lhe chamou um acérrimo defensor do regionalismo beirão, o Dr. José Júlio César, de S. João do Monte, hoje completamente esquecido na toponímia de Tondela.
A Estância Sanatorial, hoje é apenas uma saudade e o Poder no Caramulo há muito chegou ao fim, com o desaparecimento daqueles que representavam o Poder Central ao nível do Estado. Ainda há gente boa e com valor no Caramulo que podia ajudar a mudar este actual estado de abandono a que o Caramulo chegou, pelo menos tentar que as gentes serranas não continuem a sofrer como sofrem, com, cada vez menos, serviços de proximidade.
Com a desertificação a abater-se sobre a Serra do Caramulo, por este andar, nem a Escola C+S terá um futuro sustentável e, daqui a uns anos, poderá, eventualmente, encerrar as suas portas.
Não fora os museus, o Hotel e alguns teimosos, o Caramulo viveria numa apagada e vil tristeza, como diria o poeta.
A Extensão de Saúde está presa por um “fio”, por vezes não há médico de família e, por outras, nem funcionários tem, como acontece nesta altura, muito embora a população local se tivesse indignado contra esta situação. As gentes serranas comentam e sentem-se “abandonadas” pelos responsáveis da saúde a nível regional que, convenhamos, é o reflexo do que se passa a nível nacional, tudo agravado com a maldita pandemia, que vai ceifando vidas que ainda tinham muito que dar à sociedade.
O CARAMULO É PARA “FECHAR”?
A zona serrana do Concelho de Tondela, mais propriamente a Vila do Caramulo e arredores, tem vindo a perder, sistematicamente, bens e serviços de proximidade, disso ninguém tem dúvidas.
Basta olhar à perda das agências bancárias, que eram duas, ficando reduzida a vila a uma simples caixa de multibanco. Refiro-me à degradação das forças policiais da vila, pela existência de um quartel da GNR, quase novo, propriedade do Estado, sem guardas. Refiro-me, no caso concreto, à subalternização da Extensão de Saúde da Vila do Caramulo, cuja saúde, sem dúvida, está presa por um fio…
Por outro lado, há aldeias sem estradas condignas e a sua luz eléctrica deixa muito a desejar, quando, na verdade, ali existem tantas torres de energia eólica, que criam riqueza na serra, cujos benefícios na serra não ficam, para além de quem recebe rendas de direitos de passagem.
Por isso, a pergunta: o Caramulo é para fechar? Responda quem souber…
- NOTA DO DIRECTOR: Este artigo não teve lugar na imprensa em papel, mas tem aqui, na imprensa online. Hoje houve uma conferência de imprensa na Câmara Municipal de Tondela, da qual prometemos dar conta dos assuntos abordados pelo presidente, José António de Jesus, sobre o encerramento de três extensões de saúde do concelho, por falta de pessoal administrativo, o que é vergonhoso e um desrespeito pelas gentes, privadas de um serviço essencial de proximidade, tudo, fruto de um governo que temos, que esquece o interior do país e de uma estrutura regional (ACES) que não funciona. Há mais vida para além da pandemia !!!
- E os deputados de Viseu, afectos ao Governo, não batem o pé aos seus chefes? Quando o Governo era de outra cor, faziam-no e de que maneira…