OS 40 ANOS DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS COMBATENTES DO ULTRAMAR

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Antigos combatentes na sessão solene
  • 40 ANOS A DEFENDER OS
  • COMBATENTES 

No passado Domingo, dia 11 de Setembro, teve lugar em Tondela, o 40.º aniversário da Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar (ANCU).

Edifícios sede da ANCU

O programa foi iniciado pelas 09.00 horas na sede da Associação, com a concentração e o habitual pequeno-almoço, com a presença das várias associações de combatentes do norte e centro do país e de alguns núcleos da colectividade, fundada em Guimarães pelo Dr. João Barroso da Fonte.

Seguidamente e após o içar das bandeiras na sede social, no Auditório Municipal, pelas 10.00 horas, teve lugar uma sessão solene, com uma plateia bem composta e a presença de figuras institucionais, que tomaram assento na mesa dos trabalhos, nomeadamente, Carla Antunes Borges, presidente do Município de Tondela, Manuel Nascimento, presidente da Assembleia-Geral da Federação dos Combatentes do Ultramar, Coronel Santa Clara Gomes, presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, António Dinis Ferraz, presidente da Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar e José Maneiras, na qualidade de combatente mais antigo.

  • OS MILITARES MORTOS DO CONCELHO FORAM BESTEIROS...

Finda a cerimónia, teve lugar, pelas 11.00 horas, a missa solene na Igreja Matriz da cidade, com a presença dos estandartes e guiões de todas as associações participantes, finda a qual, foi realizada a cerimónia patriótica junto ao monumento aos combatentes, no nó central interno do IP3, onde o Dr. António Ferraz, teve ensejo de explicar, para quem ainda não sabia, o significado de tal monumento, enriquecido com a cartografia do tempo das descobertas (Séc. XVI), sonetos de Camões e Fernando Pessoa e os nomes dos 49 combatentes tombados na guerra ultramarina, ao serviço da Pátria, simbolizados pelo mesmo número de bestas, a arma medieval que deu o nome à nossa região e, sendo assim, cada soldado morto do nosso concelho, foi um besteiro.

Finalmente, a caravana de todos os antigos combatentes e convidados, encaminhou-se para a Serra do Caramulo, onde, no Restaurante “Sentido da Gula”, em Pedronhe, foi servido um magnífico e suculento almoço, que a todos agradou e que decorreu, animadamente, como é tradicional nestes convívios de antigos combatentes que, um dia, juraram defender a Pátria e dar a vida por ela, se preciso fosse.

Depois das sobremesas, o corte do bolo dos 40 anos da ANCU, motivo para brindar com champanhe e cantar os “parabéns a você”.

  • COMBATENTES QUEREM RECONHECIMENTO DIGNO DO ESTADO

Na sessão solene dos 40 anos da ANCU, tanto a presidente do Município, como o presidente da Associação Nacional dos Combatentes, usaram da palavra sobre este dia feliz para aqueles combatentes que, com mais ou menos peso, carregam os problemas do dia-a-dia, como qualquer outro português, mas com a prerrogativa de terem o “Reconhecimento da Nação” exarado num cartão que, na verdade, ficou muito além das merecidas expectativas.

Na circunstância, no seu discurso, o Dr. António Ferraz deu a conhecer as démarches do Dr. João Barroso da Fonte, seu fundador, para a criação da Associação que, durante 20 anos, funcionou em Guimarães, o qual, desiludido com o nulo apoio do município vimaranense, teria insistido com o recém-criado Núcleo de Tondela, que mostrou alguma pujança, para se proceder à mudança da sede para esta cidade beirã e que, depois de algumas insistências, teria aceitado.

O orador lembrou que o Dr. Barroso da Fonte já tinha lançado a ideia da construção de um Monumento Nacional, que se veio a concretizar por volta de 1996 e que, “já com a sede em Tondela, a ANCU não só esteve na génese do Monumento concelhio, como lançou a ideia do desfile dos combatentes integrado nas Forças Armadas no dia de Portugal, como conseguiu agregar algumas outras associações de combatentes e fundou com elas a Federação Portuguesa das Associações de Combatentes”.

  • BENEFÍCIOS AOS ANTIGOS COMBATENTES

O Dr. Ferraz lembrou depois que, em 1998, numa deslocação de propaganda em Tondela, para as eleições, “o Dr. Paulo Portas foi despertado por elementos do Núcleo para a problemática dos antigos combatentes. Ao mesmo tempo, o movimento associativo começou a desenvolver-se e seguiram-se inúmeras reuniões. A não ser alguma atenção para com os deficientes das Forças Armadas, nada desde o início da guerra se tinha feito de visível. Nem se sabia quantos éramos”, sustentou.

O tratamento de dados foi realizado no edifício da Cordoaria Nacional com duas equipas de 60 elementos cada, em turnos de 6 horas contínuas diárias, que no fim de alguns meses tinham organizado o ficheiro individual de cada combatente, ao mesmo tempo que o Arquivo Geral do Exército foi reorganizado. Foi o primeiro passo para alguns pequenos benefícios da Lei 9/2002, depois alterada pela Lei 3/2009. Ao mesmo tempo surgiram os protocolos de algumas associações com o Ministério da Defesa para tratarem o stress pós-traumático de guerra.

  • AINDA SOMOS CERCA DE 450 MIL…

“Mas levámos a luta por diante e rapidamente estivemos envolvidos no Estatuto do Combatente. Conseguimos criar um cartão de combatente que reconhece o nosso empenho pela defesa da Pátria e que há-de servir como meio de acesso a outros benefícios, nomeadamente económicos”, enfatizou.

Referiu depois que “propusemos também a isenção de taxas moderadoras, os transportes gratuitos, as honras militares fúnebres com o direito à Bandeira Nacional. No entanto, a melhoria dos benefícios económicos ficou esquecida pelo Governo. Somos ainda cerca de 450 mil antigos combatentes. Mas se o dinheiro é escasso para contemplar tanta gente, haja coragem de distribuir o razoável pelos combatentes mais necessitados”, sublinhou o verdadeiro líder dos antigos combatentes.

E continuou António Ferraz: “Por isso a nossa luta continua. O Governo dá indícios de muito pouco mais fazer pelos combatentes. A Secretaria de Estado desapareceu, sinal de que com a promulgação do Estatuto terá cumprido a sua missão. É tempo das associações se virarem para as autarquias. É certo que elas se têm empenhado com a edificação dos Monumentos aos nossos mortos, e estão mais próximas, como sempre estiveram dos antigos combatentes pela ajuda que têm prestado às suas associações. Mas poderão fazer bastante mais”.

  • MELHORIAS NA SEDE E O DIA DO COMBATENTE

O orador reconheceu a boa colaboração e ajuda para com os combatentes, pois além do mais, teria cedido, por comodato, o local da sede, antiga escola primária Conde de Ferreira, ao fundo do recinto da Feira e o edifício que construíram para funcionamento do Posto Médico, destinado ao tratamento do stress pós-traumático de guerra e, nos últimos anos, lhe tem concedido um subsídio anual de 5 mil euros para despesas de funcionamento. Contudo, a ANCU, tem feito também obras de conservação e algumas benfeitorias sem direito a qualquer indemnização.

O orador referiu que as instalações necessitavam de outras melhorias, como os muros de vedação do recinto e o respectivo gradeamento, ao nível de limpeza e pintura capazes. “E pensamos que a exemplo de outras iniciativas com idosos e avós, era altura de festejarmos no concelho e com solenidade que se visse, o Dia do Combatente. Só pela idade já estamos abrangidos por aquelas duas primeiras solenidades. Porém, o nosso serviço à Pátria, sobretudo no tempo em que se vive a guerra e se sentem os efeitos dela, seria justo e adequado que o Município se empenhasse connosco na festividade do Dia do Combatente. E olhem que já não será por muitos anos, pois a idade média dos combatentes anda, nesta data, pelos 74 anos”.

Ao concluir o seu discurso, sob o signo da comoção que lhe é peculiar, o Dr. Ferraz disse que “nesta data em que festejamos 40 anos da nossa Associação, cabe-nos uma palavra de solidariedade e gratidão aos nossos companheiros de luta, através dos dirigentes das associações aqui presentes. Também à Câmara Municipal que, pelos nossos 25 anos nos contemplou com a medalha de prata de Mérito Municipal e à Junta de Freguesia manifestamos publicamente o reconhecimento pela ajuda que nos têm dado. E também a todos os nossos associados, que numa comunhão de sentimentos e recordações, se têm unido à volta da ANCU”.

As suas últimas palavras foram para os seus “amigos da Direcção”, a quem deixou o seu reconhecimento pelo “trabalho conjunto, organizado e generoso desenvolvido”.

Carla Antunes Borges, felicitou a Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar e todos os seus associados pelos 40 anos da dinâmica colectividade, prometendo continuar a apoiar todas as suas actividades, ficando logo assente que os pedidos do seu presidente, seriam rapidamente satisfeitos.

E, claro, também teria anuído ao fornecimento das bandeiras nacionais a colocar nas urnas dos combatentes falecidos, como derradeira homenagem, sem esquecer a criação, em Tondela, do Dia do Combatente, com data marcada para 9 de Abril e que, simbolicamente, como prenda de anos, lhe fez entrega de uma bandeira. 

Texto, fotos e desenho de ZÉ BEIRÃO

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